domingo, 13 de julho de 2008

O Fugitivo

Estava em uma festa. Havia bebido de mais. Relógio marcava 4 da madrugada. Resolvi voltar para casa. Ia dirigindo. Estava bêbado, mas dava pra ir levando.

Ando cerca de 1 milha, sinais fechados. Escuto um barulho. Passei por cima de algo? Um calafrio percorreu meu corpo, fiquei sóbrio na hora. Olhei pra trás. Um corpo imerso em sangue. Matei! Eu matei alguém! E agora meu Deus? Socorrer? Não! Estou bêbado! Vou ser preso. Acelerei. Corri como nunca corri. Cortando a rua na madrugada cantando pneu.

Tremia. Como tremia! Fui pra casa. Olhei a lataria do carro, não estava amassada. Por sorte! Nada mais daria mais na cara! Aquele carro, meu conversível vermelho com rabeira de peixe. Existe algo que chama mais a atenção!? Se alguém me viu! Estou frito! Existem poucos carros iguais a esse. Alias. Esse era único. Eu mesmo o modificara, um orgulho. Mas justamente por causa dessa paixão, serei preso?! Não! Devia ter voltado! Se ela não estivesse morta, eu a matava! Ninguém ia saber. Estava escuro!

Não posso ficar aqui! Não posso mais ficar com esse carro! Ele está amaldiçoado agora.

Minha única paixão! Algo que demorara tanto tempo para fazer. Três longos anos juntando tempo e dinheiro. Fazendo os mínimos detalhes. O banco de couro importado da Alemanha. Ira tudo pro lixo?! Bem. Antes isso a ser preso!

Tenho que viver uma nova vida agora. Não posso mais ficar nessa casa. Melhor ir é pra um motel barato e pensar no que fazer. Não posso ser visto. O dia tá amanhecendo já! Se eu for rápido ninguém vai me ver.

Ando alguns quilômetros, dia amanhecera e me vejo defronte ao “Motel Love”. Decadência. Mas era isso. Ia ser estranho chegar em um motel de manha sem companhia. Ia dar na cara. Passei o resto do dia espremido em um beco torcendo pra que ninguém me visse.

Anoitecera. Nem precisei forçar a cara de cansado ao chegar no motel. Pedi um quarto qualquer e fui pernoitar. Tomei um banho. Deitei na cama de molas barulhenta. Pensar. O que eu faria agora? Não posso ser preso! Não! Definitivamente não!

Preciso apagar minha existência! Preciso sumir. Mas como? Preciso estar morto para os olhos das pessoas! Isso! Forjaria minha morte!

Tem coisa mais fácil!? Coleto um mendigo na rua. Vou até a minha casa de madrugada. Ligo o gás no máximo. Ponho ele perto do gás. E bum! Morre! Posso até colocar latas fechadas no microondas! Ele fica perto do fogão! Isso! Estava feito! Amanha a noite! Faria isso! Agora precisava dormir.

O dia amanhece. Sai do motel e passa o dia a vagar na rua. A procura de alguém que não fizesse falta. Alguém que caso morresse ninguém jamais perceberia. Em um beco achara sua vitima perfeita.

Um homem em uma aparência deplorável. Um odor pútrido exalava de si. Não podia agir agora. Esperaria até o badalar de duas da madrugada. Hora perfeita!

Passei o resto do dia como no anterior, em um outro beco esperando o tempo passar. Recalculando o plano. Deu a hora. Agora tenho que agir.

Convencer o mendigo a ir comigo era a coisa mais fácil que existe. Só oferecer comida. Disse que era de algum grupo de caridade. Isca fisgada. Fomos a passos rápidos. Ele ofegava. Só alguns poucos carros passavam. Com meus trajes prestos ficava difícil discernir meu rosto. Era só mais alguém sem rosto.

Chego em casa. Por sorte o infeliz ficara calado o tempo todo. É desses sujeitos acabados que estão acostumados com a solidão e comem quieto.

Entrei na casa. Ele me seguiu. Fomos até a cozinha. E agora? Como botar o plano em operação. Como deixar ele imóvel!? Esquecera disso! A parte crucial! Como foi tolo. E agora? Voltar, sair? Abandonar o plano? Jamais! Improvisaria.

Os detetives de hoje em dia são inteligentes. Mas eu já li muito livro. Não é de me gabar, não sou nenhum intelectual, mas sei o que deve ser feito. E ainda mais no Brasil. Eles nunca vão me achar se eu agir só um pouquinho mais inteligentemente que esses criminosos estúpidos de hoje em dia.

Fiquei atrás do mendigo. Imobilizei ele e pressionei a carótida dele com muita força. Desse jeito ele desmaiaria sem deixar marcas e em pouco tempo. O coitado quase nem resistiu, nem gritou. Desfaleceu no chão. Continuei pressionado a artéria, que já ficava roxa na minha mão.

Ele ainda respirava, só desmaiara e desse jeito ele ia ficar por algum tempo. Tinha cerca de 2 minutos ou mais dependendo do sujeito que ao habitual já não era apto a se mover. Não queria matar ele ainda. O jeito que ele morreria seria crucial.

Tinha que criar uma explosão grande que devastasse a casa toda em pouco tempo. Pouco me importa se vão achar que é criminal, só quero que achem um corpo morto e pensem que é o meu!

Um incêndio de grandes proporções e de elevada temperatura.

Pronto. Já sei o que fazer. Saio arrastando o mendigo. Ponho uma sacola plástica em seu rosto. E jogo sua cara contra a escada de minha casa. Assim a arcada dentaria ficaria irreconhecível. E assim guardo os dentes dele na sacola para me livrar depois. O sujeito pareceu acordar mas logo desmaiou. O cérebro é algo estranho, pra aliviar a dor, ele apaga, mal sabendo que isso pode lhe trazer a ruína.

Qualquer detetive acharia estranho não achar os dentes da vitima. Mas é razoável pensar que a vitima foi espancada a tal ponto de perder seus dentes, já que o impacto com a escada desfigurou completamente o rosto do mendigo. Digo Um Impacto como eufêmica, poupar o leitor só sadismo de ter o rosto de outrem sendo arremessado contra a escada dezenas de vezes até o maxilar desprender do rosto. Nos anais do crime, torturas grotescas e bizarras são comuns. Se eu fosse negro seria apenas mais um crime de ódio.

O único problema agora é o DNA do sujeito. Se o fogo for intenso não vai sobrar pele alguma. Mas os ossos são um problema.

O osso humano deve ser queimado não só na parte exterior, mas a interior. O DNA não se extrairia do osso propriamente dito. Mas sim de seu interior.

Para que ele queime por completo não deve ficar em contacto com nenhuma superfície. Se ele tiver tocando o chão, essa parte não queima totalmente. Só tem uma solução. Enforcar o sujeito usando vários fios de cobre enrolados.

Preparativos feitos, corpo enrolado. Pus ele pra balançar e fiquei a olhar com um pouco de prazer. Estava tudo a mil maravilhas. O plano estava de acordo.

Agora a parte mais difícil. O incêndio.

Arrastei meu sofá para debaixo do corpo. Joguei algumas cadeiras em cima do sofá e ao redor do mesmo outras coisas de madeira.

Fui até o meu carro. Ainda estava lá. Com uma mangueira tirei 20 litros de gasolina que pus em um balde. Voltei até a casa.

Até então eu havia tocado coisas naturais de minha impressão digital estar lá. Mas agora eu precisaria de uma luva. Peguei uma que eu possuía e peguei depois Silver-Tape.

Qualquer detetive acharia racional que o criminoso usou luvas ao entrar na casa. E também acharia racional encontrar as impressões digitais que só pertencem a vitima. Se é que ao final do incêndio sobraria tais vestígios, mas toda precaução é pouca. Não preciso me preocupar com as digitais do mendigo, já que o mesmo não tocara em nada, já chegou pra morrer, por assim dizer.

Fechei a janela da cozinha e com a Silver-Tape tapei todas as frestas que encontrei. Essa parte é crucial.

Fechei a porta da cozinha e pus Silver-Tape nela também. Em excesso. E depois com um estilete, cortei perfeitamente, bem rente a porta, e a abri. E com ela aberta. Pus mais Silver-Tape.

A gasolina eu joguei em cima do sofá e nos arredores. E com meus dois botijões de gás, um do fogão e outro reserva, pus um em cada lado do sofá.

Fui até a pia. Tenho uma jarra de suco de aproximadamente 30 centímetros de altura e 13 de diâmetro feita de um vidro grosso. Peguei uma forma de pizza de uns 17 centímetros de diâmetro. Coloquei a forma no microondas e pus álcool etílico até 1 cm de altura na forma. Com 3 latas de atum fiz um tripé para servir de apoio para a jarra de suco. E a pus.

Isso seria o timer. O microondas elevaria a temperatura do álcool até ele entrar em combustão. Ele aqueceria o ar dentro da jarra, fazendo com que o gases menos densos fiquem em seu topo. Isso criaria uma bola de plasma dentro da jarra, que elevaria a temperatura da jarra até ela quebrar. Como o vidro é grosso e temperado demorar-se-á muito tempo até ele quebrar. Sem contar as latas de atum que explodiriam, quebrando o microondas, deixando assim com que o ar exterior entre em contacto com o ambiente dentro do microondas, onde existe fogo. Não há necessidade de tantos preparativos mas seria muito bonito ver tudo isso e isso instigaria e deixaria os detetives desorientados.

E isso então causaria a explosão. Já que a cozinha estaria em alta pressão, por causa do gás de cozinha sendo exalado e não tendo para onde fugir. Uma explosão enorme. Poderia fazer outros timers, mas esses era o mais seguro, já que o meu microondas possui a porta vedada hermeticamente.

Após apertar o botão de ligar do microondas. Abro os botijões de gás e aquele doce som vai ao ar. Saio rapidamente pela porta e a fecho. Não havia necessidade de vedá-la novamente pelo lado de fora. E também, não se havia tempo para tal. Pois a primeira vedação, que fora cortada, e a segunda que fora posta agiriam como se estivesse sendo vedado por dentro. Bem simples.

Pego a sacola com os dentes do sujeito e minhas luvas. E saio noite a dentro a correr. Quando estava a cerca de 1 milhas de minha casa escuto uma explosão. E que explosão! Fora monstruosas! O chão chegara a até trepidar um pouco. E as janelas das casas ao redor? Aquele barulho de trepidação. Tenho a honra de dar ao Brasil seu primeiro terremoto!

Olho para trás e vejo ao longe minha casa queimar. Em pouco tempo o fogo havia tomado a casa toda. E até os bombeiros chegarem não sobrará quase nada! E o corpo estará carbonizado e irreconhecível.

Agora o restante do plano era. Fugir. Mas não pensem que eu sou como esses foragidos quaisquer, que, quando ricos, vai pro Haiti. Ou quando são pobres, pra cidade do interior. Não! Tenho no meu sangue o instinto!

Iria pra floresta. Levava comigo apenas uma faca afiada que pegara antes de sair da cozinha. Não precisava de mais nada.

Ao redor da minha cidade havia montanhas em seu flanco leste. E uma mata fechada. Era para lá que eu iria.

Dizem alguns que tem até onça nessa floresta. Mas na vida, a coisa que se tem mais a temer é o bicho homem.

Ainda era noite. O plano todo demorara cerca de uma hora para ser executado. E agora eu corria para a floresta. Em 20 minutos eu chego nela. Entro mato adentro. No escuro. A lua não tava no céu. Com a faca na mão direita e mais nada. Não tinha lanterna e nem fósforo. Mas isso apenas deixava as coisas mais emocionantes.

Tinha o mapa da floresta ralamente desenhado na minha mente e fui andando assim. Aos trancos e solavancos.

Aquele barulho de coruja e o frio danado de comer os ossos. Nenhum animal a vista. Depois de ter andando cerca de 4 milhas mato a dentro, o que demorou cerca de 2 horas de correria em misto de um galopar, eu paro, fadigado. Subo em uma árvore alta e boa de suporte e passo a noite assim. Não dormia. Apenas fechava os olhos. Cochilava e acordava assustado.

O dia amanhece e assim, a fome danada. Não comia nada há dois dias! A excitação fora tanta que nem se lembrava de comer.

Precisava caçar e se livrar também desses malditos dentes de mendigo! Que se encontrados, só dariam trabalho.

Comida primeiro. Precisava de resultados rápidos. Morria de fome a essa altura. E só com uma faca não da pra pegar animal algum na mata. Precisava de uma lança ou então construir armadilha. Com nenhuma habilidade nos dois, mas com a parte teórica perfeitamente incrustada no cérebro, de tanto ler livro de aventura, prossegue o plano.

Desci e quebrei um ganho bom. Firme. Arranquei as folhas e tinha uma quase lança. Torta, mas há de ser útil. Com a faca fiz rapidamente uma ponta mortal. Assim ia me proteger de qualquer um que ousa-se cruzar minha frente.

Anda alguns passos e escuto um barulho. Há cerca de 130 pés de mim um veado andando tranqüilo entre as árvores. Com uma furtividade inigualável eu vou me esbeirando entre árvores, fazendo o menor barulho e me movendo com a maior eficiência. Vou chegando cada vez mais próximo do animal e o coração começa a bater acelerado. Estava a 15 pés do bicho e ele não me apercebera, tamanha a minha cautela.

Com minha lança improvisada em mãos e em posição de ataque, joguei-a com muita força e ela crava o dorso do animal. Tenta correr. Da à volta em torno de si mesmo e cai no chão, morto. Corro até o animal e o vejo morto.

Não podia ascender um fogo, e mesmo se pudesse, não tinha meios. Não fizera o reconhecimento da região, não sabia há que distância havia homens.

Com a faca na mão, vou abrindo o veado, estripando suas partes. Como um animal selvagem, comi assim, cru e bebi seu sangue, que escoria minhas faces e dava-me uma aparência bestial.

Faria-me muito mal comer essa carne crua, mas faria-me muito mais mal, não a comer.

Como os animais, não posso me dar a luxuria de comer carne cozida, frita ou assada. Teria que fazer igual aos bichos, comer cru.

Após saciado minha fome saio dali e deixo o animal morto ali.

Ando a norte, a fim de me adentrar cada vez mais profundamente nessa floresta.

Horas de andanças. Vejo alguns animais, mas nenhum ameaçador. Havia andado mais de 10 milhas, mas não estava inclinado a parar. Sabia que por ali perto havia algum rio. Havia de chegar nesse rio.

Anoitecia já quando cheguei no rio. A cidade mais próxima do rio ficava umas 20 milhas rio abaixo. Não era um rio famoso. Era um modesto rio apenas.

Peguei os dentes do mendigo. Embrulhei um a um e folhas de árvore e barro. E joguei um. Passados alguns segundos. Jogo outro em outro ponto e assim vai. O rio os levarias a pontos diferentes. Seriam esquecidos. Se achados não trariam tantos problemas.

Quando de repente vejo meu ombro sendo tocado. Viro assustadoramente rápido e vejo um homem. Parecia que ele estava falando comigo há muito tempo, mas eu nem me apercebera. Quando os filósofos diziam que o homem apenas escuta o que quer escutar, estavam certos.

O terror nos meus olhos era visível. Ele perguntava se esta tudo bem comigo. Na ânsia de não ser descoberto peguei minha faca e finquei em seu peito. Ele tentou tirar, mas não adiantava, cai morto como uma pedra.

E agora. Essa morte? Como esconderia!? O que faria?! Alias. O mais importante. O que ele estava fazendo aqui?! Não era deserto essa região?! Me enganara? Pegara o trajeto errado?

Isso ficaria para se descobrir depois. A urgência imediata era a presença daquele corpo ali, esfaqueado friamente e sem vida. Livrar-se de dentes de mendigo era fácil, mas Aquilo! Pensa, pensa.

Decidira comê-lo. Era o mais plausível de se fazer. Não conseguiria comê-lo todo naquele dia, obviamente. Ele comeria as partes que mais poderiam identificar o corpo, como a face e a medula. As outras carnes ele estilhaçaria em pequenos pedaços com a faca e os enterraria espalhados pela floresta. Os ossos ele moeria com alguma pedra e diluiria o pó no rio. O plano era perfeito.

Levara o dia todo para executar tal plano e estava fadigado. Tudo por causa daquele intruso! Mas, de onde ele teria vindo? Amanhã ele faria uma busca de reconhecimento pela área. Por hora a melhor idéia seria dormir em uma árvore, longe do solo.

Acordara subitamente. Seria dia seguinte? Seria mais que isso? Ele realmente estava cansado e talvez dormira muito. Mas fora acordado por várias vozes. Estaria sonhando!? Provavelmente não. Ele sentia dor de cabeça. Provavelmente pela quantidade de carne crua que comera os últimos tempos. Enfim. Mas era impossível haver tantas pessoas quanto as vozes naquele lugar tão distante. Pelo menos ele andara muito para chegar ali. Teria ele andado em círculos? Será que o tinham rastreado?

Observou uma clareira ali perto e viu o que lhe parecera 5 pessoas. Um homem, uma mulher, uma adolescente, e um casal de crianças. Um cachorro brincava com as crianças. Faziam pic-nic. Um carro estava estacionado entre árvores.

Com certeza eram da polícia, ele pensou. Tinham rastreado-o. O cachorro deveria ser farejador com pedigree, o carro era uma viatura e forjaram um pic-nic para atraí-lo. Trouxeram até crianças para dar realidade a tudo. Ele seria preso e condenado. Era o fim.

Mas não! Ele não deixar-se-ia capturar tão facilmente. Ele tinha o elemento surpresa. Ele iria aniquilá-los e fugir para outro lugar mais distante.

Fora sorte ter trazido aquela faca afiada. Ele faria um arco e algumas flechas. Seria decerto fácil matá-los. Ele furaria o pneu do carro. Abateria primeiramente os dois alvos mais distantes. Algum outro deveria socorrer quem estivesse caído, e ele abatê-los-ia também. Quem tentasse fugir pelo carro não conseguiria por causa das rodas. Esses no carro ele poderia alvejar com flechas ou degolá-los.

Ele demorou o que pareceu uma hora e meia para fazer um arco, envergá-lo, colocar um fio elástico de cipó e fazer cinco flechas afiadas. Não ficaram uma obra de arte, mas eram funcionais e matariam quem tivesse a carne atravessada desde que não estive-se muito distante.

Era chegada a hora. As crianças brincavam à beira do rio e os outros cuidavam do pic-nic a uns dez metros de lá. Ele acertaria as crianças primeiro.

Ele não tinha perícia qualquer em arco e flecha. Então deveria chegar perto do alvo. 10 metros no mínimo. Por sorte havia muitas árvores para se camuflar por ali.

Esperou o momento ideal. Arqueou a arma, segurou a flecha com firmeza. Calculou mentalmente à distância. Uns 8 metros. Levando em conta que a criança mais na beira do rio, o alvo, estava agachada, e ele estava em pé, o ângulo de tiro deveria ser um pouco abaixo do ângulo raso.

Uma inocente criança, brincando e rindo. Deveria mesmo matá-la? Por um momento, pensou em desistir. Mas logo veio a idéia de aquelas pessoas mostrarem seus distintivos, armas e prenderem-no. Não!

Zumpt! Soltou a mão que segurava a flecha.

A flecha assobiou com aquele típico som quase inaudível e penetrou as costas do garotinho, bem entre as omoplatas. Caiu sem vida no rio.

- Juca! Eu disse pra você não nadar agora. Saia daí e vem comer sanduíches - disse amavelmente a mulher.

De onde os outros estavam, eles não viram o espetáculo que acontecia magicamente naquele rio. O puro sangue do garotinho vazava pelos dois furos de sua caixa toráxica, um pelas costas e um pelo peito, atravessado, espalhando-se pelo rio e dando aquela linda coloração vermelha transparente.

Ele quase esquecera do que estava fazendo. Acordou de seu momentâneo transe para a vida real. A outra criança, uma menininha, observava o rio e o sangue, sem entender muito bem. Teria uns 4, 5 anos. Não conhecia a morte talvez. Mas era o próximo alvo e deveria alvejá-la sem que ela alertasse os adultos.

Repetiu o processo e zapt! A flecha atravessou-a diagonalmente pela barriga. Como ela não estava tão perto do rio, caiu ali mesmo, no chão.

Dessa vez os adultos viram. A mulher soltou um grito e o homem correu para socorrer a garota. Por não saber o que acontecera e repentinamente ver uma flecha atravessada naquela doce criança, que jazia sem vida, o homem ficou parado ali, sem saber o que fazer.

Bom para o arqueiro. Esse ele mataria melhor matado. Chegou mais perto, a uns 5 metros, mirou cuidadosamente e atirou a flecha. Acertou-lhe o ombro! O homem gritara, mas não morrera. Que má sorte! Ele teria de gastar outra flecha, o que presumia que uma das próximas vítimas teria de morrer a facadas.

O homem tentara correr para o carro, mas foi alvejado mortalmente no lombo agora.

Já não era mais preciso se camuflar. Todos já sabiam de sua presença. A mulher e a adolescente correram para o carro e o ligaram, tentando fugir. Porém não se deslocaram. Os quatro pneus estavam absolutamente sem ar naquele terreno cheio de solavancos e barro.

Que tipo de polícia é essa que corre, ele pensou. Malditos policiais. Se acham o máximo, mas estão correndo. Bem. Ele os mataria do mesmo jeito.

Os vidros e portas estavam trancados. As mulheres dentro gritavam. Ele vira vários filmes de terror e sempre gostara da parte em que as pessoas gritam, sem poder fazerem nada. Elas não tinham como fugir. Eram como moscas impotentes na teia de uma aranha.

Ele calmamente deixou o arco e a flecha restante no chão. Pegou uma grande pedra que havia por ali. Chegou perto do carro e quebrou o vidro frontal no terceiro golpe com a pedra. Empunhou sua faca e assassinou-as uma após a outra, degolando-as. Como era bonito ver o sangue espirrado diretamente do pescoço. Era como um gêiser vermelho. Matar era decerto a oitava virtude cardeal. Chacinas são a nova arte do futuro.

Como eram tolas essas vítimas, decerto o nome, vitimas, não reagem. Vêem matarem os seus e pedem que cessem a matança quando se trata de si mesmos? Ora! Que tolice. Pior fora a policial que se disfarçara de mãe. Essas são as piores! Elas ameaçam alguém mais forte do que elas. Aqueles gritos "Você será preso! Você não vai sair dessa". Palavras são apenas boas para bullying, no mais, uma bela faca, hm... fala muito mais.

Pronto. Cinco corpos jazem no chão. Um homem, duas crianças e duas mulheres. Como se livrar dos corpos? E ainda tinha o carro! O carro. Procuro na viatura algum distintivo, radio da policia. Nada. Nada! Meu deus! Não eram policiais? Por um reles momento eu senti um pouco de remorso, matei pessoas inocentes. Mas logo essa sensação passou. Mereceram. Estavam no lugar errado na hora errada. Eu tive que sofrer por causa disso! Se eu não tivesse dirigindo e atropelado aquela pessoa eu não estaria aqui. Porque eu tenho que ter carma e eles não? Mereceram morrer. Alias. Era meu dever matar eles. Isso. Tive que puni-los. Ah. Questões filosóficas aparte, como vou me livrar? Alias, devo me livrar dos corpos?

Se eles estão aqui significa que deve ter alguém que saiba que eles estão aqui. E se eles não voltarem em 1, diga 3 dias, alguém vai vir procurar e vai ver corpos. E os policiais dessa vez vão procurar na mata ou aos arredores o criminoso. Definitivamente não podem encontrar os corpos nem o carro. Mas como se livrar de um carro? Um carro! Não da pra comer nem enterrar! E agora o carro não tinha mais pneus! Eu os furara. Não da nem para tirar o carro dali e jogar ele fora em algum lugar. Ah! Bem. Vamos ser lógicos. Minhas digitais não estão no carro. Estou com a minha luva de motoqueiro desde o começo. Então não preciso me preocupar em ser identificado. Alias. Não tem como me identificarem. Nesse momento eu ri e ri por alguns minutos.

Passei meia hora arrastando os corpos para dentro do carro. Todos os cinco. Peguei a toalha usada no pic-nic e pus dentro do tanque de combustível. Desde o mendigo eu fiquei aficionado por explosões. O homem tinha um isqueiro. Peguei ele. Seria útil mais tarde. Botei fogo na ponta da toalha e corri muito rapidamente. Nem 15 segundos depois uma explosão.

Pouco mais de 3 minutos uma grande área da floresta estava pegando fogo. Isso seria bom. Distrairia os policiais. Continuei correndo. Corri por 3 horas. As pernas falhavam por varias vezes. Cai inúmeras vezes. Minhas pernas, joelhos, sangravam dolorosamente. Minha mão estava ralada. Suava. Estava banhado em meu próprio sangue, mas corria floresta adentro.

Droga! Por culpa daqueles cinco agora tive que destruir minha morada? Pra onde eu vou? Será que os peritos já declararam minha morte ou acham que sou foragido por assassinato? Não tinha como saber. Não tinha televisão nem jornais. Precisava me aproximar da civilização, mesmo que seja perigoso eu preciso saber se eu to morto ou sou criminoso.

Bem. Já estava bem escuro. Ia dormir. Em cima de uma arvore novamente. A dor dos machucados junto com aquele gélido frio da madrugada incomodou. Incomodou mais ainda a fome. Passara o dia todo planejando matar os 5 e fugindo. Estava completamente exausto. Não sei se dormi ou fiquei a noite acordado. Mas assim a noite passou.

Eu estava sujo. Imundo! Roupas ensangüentadas, rasgadas. Sujo de lama e barro. Precisava me lavar e arranjar roupas novas. Não podia retornar a civilização nesse estado.

Continuei andando. Após cerca de umas duas horas de caminhado, não sei ao certo, não possuía relógio e a minha percepção do tempo estava começando a ficar bem confusa, a floresta começa a ralear ate acabar. Estava no alto de um barranco e abaixo, cerca de uns 50 metros declive abaixo possuía uma casa, pequena e velha. Estava eu em alguma fazenda ou área rural? Não sabia. Eu nem ao menos sabia mais quantos quilômetros já havia andado ou há quantos dias eu estava nessa vida. Parecia que eu já estava assim há anos. Que sempre havia vivido fugindo e sendo perseguido.

Com a faca na mão eu vou descendo o declive e chego ate a casa. Entro sem cerimônias. Não havia ninguém. Procuro por comida e acho algumas coisas e como. A casa possuía um fogão a lenha na cozinha, a parede dele estava toda queimada. A sala era pequena e possuía um sofá e uma cadeira de balanço. Sem televisão, geladeira ou qualquer equipamento moderno.

Tinha um quarto e um chuveiro. Procuro algumas mudas de roupa e acho e vou tomar meu banho. Fui rápido e ligeiro e sempre deixei minha faca ao meu alcance. Pensava a cada segundo que alguém irromperia casa a dentro querendo me matar.

Lavado e com roupas novas fui tratar meus ferimentos. Por toda a perna escoriações. Braços. Mãos. Ah! Pela primeira vez desde de que comecei a fugir comecei a pensar melhor a respeito disso tudo. Se eu sai-se dessa, nunca mais dirigiria um carro ou beberia de novo! Ah! Ah!

Sento no sofá e fico alguns minutos olhando para a parede. Adormeço.

Quando acordo me assusto por ter dormido, mas logo me tranqüilizo. Mas alguns minutos depois minha cara estava tomada pelo terror. A minha frente havia um prato de comida e eu estava enrolado em um cobertor. Levando abruptamente e começo a procurar pela casa, alguém estava lá!

Ninguém. Ninguém!!

Sento de novo no sofá e começo a ficar profundamente preocupado. Fora eu quem colocara aquela comida ali? E o cobertor? Eu me cobrira? Não. Não me lembro de ter feito isso. Ou fizera? Comecei a ficar apreensivo, estava eu a ficar louco? Enrolei mais ainda no cobertor e fiquei a olhar a parede novamente me envolvido nesses pensamentos.

Alguns segundos depois a porta da frente abrira e uma pessoa entrara. Passara por mim e fora para a cozinha. Não me mexi. Pouco tempo depois a pessoa não voltara ainda. Peguei então minha faca e escondi na minha calça e fui para a cozinha com sutileza.

Entrando na cozinha a pessoa me vira entrar. Era uma mulher. Cerca de 27 anos de idade. Sem muito traços marcantes. Naquela momento eu só pensei em uma coisa; em como matar ela. Cortaria a garganta, assim ela não gritaria. É. Decerto, eu faria isso.

- Ah! Já acordara? Estais melhor? – ela me disse com muita ternura. Foi preciso alguns segundos para eu compreender o que ela quis dizer. Já quase me esquecera como é conversar.

- É... Sim...

- Que bom – disse ela sorrindo e voltando a preparar a comida.

Não que eu sentisse compaixão por ela e não quisesse mais a matar. Mas fiquei profundamente desconcertado com a presença dela.

Mas ela me vira. Pode não ser policial ou qualquer coisa. Mas me vira! E por isso devia morrer. Peguei a minha faca e fui me aproximando dela.

Quando estou há um metro dela ela se vira e me olha. Eu, com faca em punho e uma cara abismal. Eu hesitei por um segundo. Mas avancei logo em seguida para ela e cravei a faca em seu peito. Ela não gritou, não se mexeu, não fez absolutamente nada, apenas caiu. Ainda não morreu. Respirava com dificuldade.

Eu apenas disse uma palavra a ela, antes de morrer. “Desculpe”. Ela, ainda com a cara aterrorizada, morreu.

Me levantei e fui a sala. Peguei a comida que ela fizera e comi e fui embora.

Foi nesse momento que eu percebi que não conseguiria mais ter minha vida antiga novamente. Eu não sentia-me culpado em matar as pessoas, não sentia remorso, não sentia nada. Eu ate gostava. Eu passaria o resto da minha vida fugindo e matando, ate um dia eu ser pego e morto eu mesmo.

Nenhum comentário: